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A chuva antes de cair – Jonathan Coe

[Publicado originalmente no Blog do Meia Palavra]

Passeando por uma livraria este livro chamou minha atenção, tanto pelo título assim como pelo nome do autor que não me era estranho. A orelha do livro foi meu primeiro destino, “a derradeira tarefa da vida de Rosamond é descrever uma série de 20 fotografias que, juntas, contam um trágico passado familiar”.

Após essa frase meus dedos correram as páginas do livro em busca das fotografias, porém para minha surpresa nenhuma foi encontrada. Então voltei a orelha, “Rosamond está prestes a morrer e volta seus pensamentos para a neta de uma prima, Imogen, que ainda criança ficou cega”. A falta das fotos foi esclarecida, e minha curiosidade levou-me a descobrir a história do livro de Jonathan Coe.

Tudo começa com a morte de Rosamond. Ela não tinha filhos, sua companheira Ruth havia morrido há algum tempo e sua irmã Sylvia também estava morta. De modo que ela deixou a herança para três pessoas. Seus sobrinhos David e Gill receberiam um terço da herança cada um. A terceira parte era destinada a Imogen, a neta de uma prima de Rosamond, e que há muito não se tinha noticias.

Gill ficou encarregada de encontrar Imogen, porém ao visitar a casa de Rosamond para buscar algumas coisas encontrou um microfone ligado a um velho gravador, algumas fotos jogadas, quatro caixinhas de fitas cassetes enumeradas e um bilhete: “Gill, são para Imogen. Se não conseguir encontrá-la, ouça-as você mesma”.

Ela, as filhas e eu “ouvimos” as quatro fitas, e o transcorrer da história contada por Rosamond através de 20 fotografias cuidadosamente escolhidas. Confesso que imaginar cada uma das fotos foi um exercício muito interessante, uma vez que a narradora preenche com detalhes mínimos cada foto e vamos construindo-as na nossa cabeça.

Além dos detalhes, as fotos ganham movimento, cores, fatos, personagens, nomes, datas e revelações que preenchem pouco a pouco a história. Que ganha um charme especial da narradora, que deixa transparecer a emoção em cada foto, além de dar uma pitada de suas opiniões sobre cortes de cabelo, roupas e devaneios sobre certos fatos do próprio passado inclusos em cada foto.

Algumas percepções de Rosamond recaem sobre cada leitor, e nos fazem pensar nas fotos que compõem nosso passado. Por que fotos, de alguma forma, retratam nosso passado. Rosamond indaga a certa altura o fato de todos sorrirem nas fotografias, e por este motivo não podermos confiar nelas. Mas talvez o sorriso seja por que queremos guardar bons momentos, e somente os bons momentos.

O fato é que o romance vai além das revelações intrínsecas a cada foto, e do fluxo emocionante que nos prende até o final. Criamos uma relação intima com Rosamond, e tentamos registrar a felicidade no momento exato em que ela está se formando, como a chuva antes de cair.

1 comentários:

Ludi disse...

Um livro com esse título, com certeza também chamaria minha atenção!
Mas acho que minha cabeça está numa fase mais 'comédia pastelão' do que 'cult'.
Sabe quando a gente enburrece um pouco? Pois é...
Beijos menino